Anna Enquist

Anna Enquist nasceu em Amsterdão em 1945. É música, psicanalista, poeta e romancista. È uma das autoras mais reconhecidas na Holanda e noutros países como a Alemanha, Suiça, França, Suécia e Áustria.

È uma das autoras mais reconhecidas na Holanda e noutros países como a Alemanha, Suiça, França, Suécia e Áustria.

Até 2000 tarbalhou como psicanalista. Em  1991 publicou o primeiro livro de poesia Soldatenliederen (Soldier's Songs). O segundo livro de poesia Jachtscènes (Hunting Scenes) surgiu em 1992.  Em 2004 publicou o livro de poemas Tussentijd (Between time)

Escreveu tambem novelas e contos. Tem poemas e historias curtas publicados na revista Hard Grass  prize.

Recebeu vários prémios importantes, tanto pela sua obra poética como pelos seus romances. Em Portugal, a  editora Temas e Debates, publicou os romances O Segredo (2002) e A Obra Prima (2004).

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Poemas

A casa esperou por nós,
pensamos. O duplo renque de árvores
acena-nos que nos cheguemos. Num sussurro,
o rio vai escorregando cheio
entre as margens.

À hora exacta, o sol vai esconder-se
por trás dos campos. A escuridão
envolve a casa que nos protege.
Acendemos o fogo, bebemos
entre as paredes.

Vendi-me inteira à
segurança e debruço-me da janela.
Dormem cavalos e galos, a água
pisca o olho à lua, e eu a pagar,
sempre a pagar.


tradução: Catherine Barel

de Rosa do Mundo – 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, 2001

Wooden almost, the way he waits
in the distance for my footstep, his
starting gun. Way up on the dyke.

Down flat he goes, traces lightning
over the field, slams himself
home safe to his whirlpool of grass.

I don't want to hunt you, hare; I want
to share your wide-open house, I want
to read what you wrote in the field.

I want to feel your golden-grey fleece
but ever between the hand and the hare
the lie and the ruin crowd in.


tradução: Lloyd Haft

lido aqui

Les chers morts sont dans une chambre
hors du temps, aux portes fermées. Des jours
passent sans que je pense à eux.

Ils s’ensevelissent sous des couches
et des couches de vie. Cette nuit, je
t’ai croisé sur une pelouse, j’ai crié

où étais-tu, où étais-tu ? Comme de l’eau,
je voulais m’allonger le long de ton corps
c’était la paix, rien ne pouvait me troubler.

Le désir est lové dans le rêve.
je te borde avec la couverture
du jour nouveau quand je me lève.


versão lida aqui

Que construção é mais sólida, se aguentou
mais tempo. E quantos mais aí moram, menos se
a consegue abandonar. Para onde. Anseia-se
por uma casa de Verão sem um fogão e sem
história. Estou aqui porque estou aqui.

Esta noite estive acordada, fazia vento, chuvas
fustigavam o castanheiro, enquanto já vinha o dia,
a noite não tinha trazido paz. Eu sabia
como eram as coisas, fui dormir e acordei
numa manhã de silêncio, lívida de tristezas.

Não se pode continuar com lamúrias. As ameixas
baqueiam podres das árvores, no frio
quintal as cores envelhecem velozes. Experi-
mentar tudo sem anestesia, pôr a postos as panelas e
o açúcar, gerir os arquivos, guardar os cacos.


in Uma Migalha na Saia do Universo, selecção e introdução de Gerrit Komrij, tradução de Fernando Venâncio, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997