Franco Loi

Franco Loi nasceu em Génova, em 1930 e vive em Milão desde 1937. Começou a trabalhar aos 13 anos e foi ceramista, ferroviário, contabilista e publicitário. Entre 1960 e 1983 trabalhou na editora Mondadori e é colaborador, desde 1987, do suplemento literário do diário "Sole-24 Ore", de Milão.

Começou a escrever aos 35 anos e publicou cerca de vinte livros de poesia, entre os quais, I cart (1973), Poesie d' amore (1974), Teater (1978), L' angel (1981); Lünn, (1982); Bach (1986), Liber (1988); Memoria (1991), Arbur (1994), Amur del temp (1999)e Isman (2005). É autor de vários ensaios, entre eles, Diario breve (1995) e Poesia e religione (1996).

A Quetzal publicou em 1993, Memoria,  tradução colectiva revista e apresentada por António Osório, Poetas em Mateus, Março de 1992.
Em 2005, Franco Loi foi galardoado com o Prémio Librex-Montale.

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Poemas

Olhei o homem e dentro estava ainda
qualquer coisa que da sombra me espreitava.
Era um espelho, como um céu de noite
em que as estrelas são tantas e pesam sobre ti,
e te espiam e, de facto, não te vêem,
ficam no escuro como pedras sem lembranças,
mas estão lá, qual memória da vida,
e tu és um sopro do teu ser longínquo...
Procurei no espelho, e quase lá no fundo
estava outro qualquer que me buscava,
alguém que sofria a sua própria dor,
e eu já não era nada, era só a história
que não se via já atrás do espelho.

***

Eu era outro e via-me a morrer
como a dormir se vê a sombra.
Põe medo a morte dentro do coração
e foge atrás de um espelho, e lá estou eu.
Vejo a vida e a vontade morre:
façam o que quiserem, mas usai-me!
Chamai-me, chamai-me, não me deixeis dormir,
pois sinto que esqueço a minha história
e me torno o homem do meu morrer...
Amor que vem a mim da luz da lua,
alegria de água que passa entre os vivos!

Memória, tradução colectiva revista e apresentada por António Osório, Mateus, 1992; Quetzal, 1993

Inclino a cabeça entre os pensamentos
e de longe me vem melancolia
e rio devagar, sem porquê, mas rio,
olho depois uma árvore que treme pela morte
que passa rente a mim. Será engano?
ou era o vento? Alheio à minha sorte,
de mim próprio inimigo, caminho estrada fora.

em Memória, tradução colectiva revista e apresentada por António Osório, Mateus, 1992; Quetzal, 1993

Sinto passar em mim um ar extinto,
como daqueles velhos sentados à porta,
e  quem os vê é como ver-se a si
naquele ar que sopra fraco e lívido,
casacos acanhados, vozes que se perdem...
Sinto-me como quem se lembra
que teve um sonho, mas não o que sonhou,
enquanto os homens falam devagar e à porta
chega a poeira do palco da comédia...
Sinto-me um nada, como um tostão furado
que se deitasse fora, e vem o tédio,
lento, pelo ar, como se parasse;
voam os pássaros no alto, como sempre,
tremem as folhas, recolhem os eléctricos,
mas a alma do mundo, como um vidro,
fica embaciada e não se vê além.

em Memória, tradução colectiva revista e apresentada por António Osório, Mateus, 1992; Quetzal, 1993