Emily Dickinson

Emily Dickinson nasceu em 1830 em Amherst, Massachusetts, onde viveu toda a sua vida. Originária de família abastada, politicamente activa (os homens) e socialmente considerada (na sua maioria, membros da Congregational Church), teve uma sólida formação escolar e religiosa.

Frequentou, durante um ano, o Mount Holyoke Female Seminary (1847-1848), altura em que escreveu as primeiras cartas.  Muito do que se conhece da vida de Emily Dickinson provém da sua correspondência, especialmente daquela que manteve por toda a vida com a sua cunhada Susan Dickinson, de quem era vizinha. Por volta de 1858, Emily começou a produzir livros manuscritos da sua poesia, os «fascicles», feitos e encadernados à mão.

Depois da sua morte foram encontrados na escrivaninha de seu quarto, de onde raramente saía, cerca de 1775 poemas amarrados com barbante em pacotinhos. Escritos à mão, muitos deles ainda em rascunho, e todos eles sem título, o que faz com que, usualmente, sejam citados pelo primeiro verso ou por números. Não publicou nenhum livro durante a sua vida.

Em 1890, postumamente, é publicado o primeiro volume de uma série de três, com os seus poemas e em 1894 são publicadas as suas cartas. Desde então, Emily Dickinson tornou-se uma das maiores figuras da literatura norte-americana e mundial.

Ler mais: jornal de poesia / english.uiuc / insónia/ traduçaoJS / wiki

Poemas

Uma campina faz-se
De um trevo e de uma abelha -
Um só trevo, e uma abelha -
E a fantasia.
A fantasia só - se poucas
São as abelhas.

*

Nunca me senti em Casa – Cá em baixo –
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa – eu sei –
Eu não gosto do Paraíso –

Porque é Domingo – sempre –
E o Recreio – nunca chega –
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta-feira –

Se, ao menos, Deus fizesse visitas –
Ou Sestas –
E deixasse de nos ver – mas dizem
Que Ele – por um Telescópio

Perpétuo nos olha –
Eu própria fugiria
D’Ele – e do Espírito Santo – e de Todos –
Não fosse o “Juízo Final”!

*

Continuarei a cantar!
Aves passarão por mim
No seu caminho para Mais Amarelos Climas –
Cada uma – com a esperança de um Tordo –
Eu – com o meu Peito Encarnado –
E as minhas Rimas –

Tarde – ao tomar o meu lugar no Verão –
Apenas – eu trarei uma mais completa melodia –
As Vésperas – são mais doces do que as Matinas – Signor –
A Manhã – apenas a semente do Meio-Dia –

Tradução: Cecília Rego Pinheiro

de Esta é a Minha Carta ao Mundo e Outros Poemas; Assírio & Alvim, 1997

249

Noites - Noites selvagens!
Estivesse eu contigo
As Noites Selvagens seriam
A nossa luxúria!

Fúteis - os Ventos -
Para um Coração no porto -
Inúteis as Bússolas!
Inútil o Mapa!

Remando no Paraíso –
Ah! o Mar!
Pudesse eu atracar - Esta Noite -
Em Ti!

449

Morri pela Beleza – mas mal me tinha
Acomodado à Campa
Quando Alguém que morreu pela Verdade,
Da Casa do lado –

Perguntou baixinho “Por que morreste?”
“Pela Beleza”, respondi –
“E eu - pela Verdade – Ambas são iguais –
E nós também, somos Irmãos”, disse Ele –

E assim, como parentes próximos, uma Noite –
Falámos de uma Casa para outra –
Até que o Musgo nos chegou aos lábios –
E cobriu – os nossos nomes –

657

Habito na Possibilidade-
Uma Casa mais bela do que a Prosa-
Com mais Janelas-
E Portas - maiores-

Salas como Cedros-
Que o Olhar não alcança-
E como Tecto Imperecível
Os Limites do Céu-

Visitantes- os mais belos-
Ocupação- Esta-
Abrir ao máximo as minhas Mãos finas
Para colher o Paraíso

1129

Diz toda a Verdade mas di-la tendenciosamente -
O êxito está no Circuito
É demasiado brilhante para o nosso enfermo Prazer
A Esplêndida surpresa da Verdade

Como o Relâmpago se torna mais fácil para as Crianças
Com uma amável explicação
A Verdade deve ofuscar gradualmente
Ou cada homem ficará cego –

1261

Uma Palavra caída por descuido numa Página
Pode estimular um olho
Quando dobrado em perpétua costura
O Fabricante Enrugado se deita

A infecção reproduz-se na frase
Podemos inalar desespero
A uma distância de Séculos
Da Malária –

Tradução: Nuno Júdice

de EMILY DICKINSON – Poemas e Cartas; Cotovia, 2000

378 

Não vi qualquer Caminho - Os Céus estavam cosidos -
Senti cerrarem-se as Colunas -
A Terra inverteu os Hemisférios -
Toquei o Universo -

Que resvalou ao contrário - e eu sozinha -
Um ponto ínfimo em Bola -
Projectado até à Circunferência -
Para além do Som do Sino - 

632 

Mais vasto o Cérebro - que o Céu -
Pois - lado a lado os põe-

E um facilmente conterá
O outro - e a Ti - também

Mais fundo o Cérebro que o mar -
Pois - mede-os - Azul a Azul -
E aquele ao outro absorverá
Tal como - a Esponja - o Balde

Um peso igual, Cérebro e Deus -
Pois - pesa-os - Libra a Libra -
E a distinção - se tal houver -
É como o Som da Sílaba -

Tradução: Ana Luísa Amaral

Presentiment is that long shadow on the lawn
Indicative that suns go down;
The notice to the startled grass
That darkness is about to pass.

poema encontrado aqui

 

A "Esperança" é a coisa com penas -
Que na alma se empoleira -
E canta uma cantiga sem palavras -
E nunca pára - a vida inteira –

E mais doce - na Tormenta - a ouvimos -
E precisava o vento ser sandeu -
Para afligir a Avezinha
Que a tantos aqueceu –

Ouvi-a na mais fria terra -
E no mais estranho mar -
Mas nem no Cabo mais Extreme
Me veio uma côdea esmolar –

Versão de dama.