Eloy Sánchez Rosillo

Eloy Sánchez Rosillo nasceu em Murcia no ano de 1948. É professor de literatura espanhola na Faculdade de Letras da Universidade de Múrcia e colabora activamente em várias revistas de literatura. Em 1977 obteve o Prémio Adonais com o livro Maneras de estar solo.

Publicou Páginas de un diario ( 1981), Elegías (1984), Autorretratos (1989)  e duas colectâneas dos seus poemas, Las cosas como fueron (1974 a 1988), e La vida (1989 a 1995), entre outros. Em Portugal, em Setembro de 2004, a Assírio & Alvim, publicou As coisas como foram, edição bilingue.

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Poemas

Y ahora cállate. No dejes que a tus labios
se asomen nunca más las palabras que hoy
has dicho por vez última. Guarda la voz
para tu soledad. Que tu trabajo
sea el silencio, el gozo o el dolor de callar
lo que las horas te dieran, lo que aprendiste
en los días luminosos que se fueron

encontrado aqui

Puede ser que te digas: "el verano que viene
quiero volver a Italia", o: "El año que hoy empieza
tengo que aprovecharlo; con un poco de suerte
acabaré mi libro", y también "Cuando crezca
mi hijo, ¿qué haré yo sin el don de su infancia?".
Pero el verano próximo, en verdad, ya ha pasado;
terminaste hace muchos años el libro aquel
en el que ahora trabajas; tu hijo se hizo un hombre
y siguió su camino, lejos de ti. Los días
que vendrán ya vinieron. Y luego cae la noche.
A la vez respiramos la luz y la ceniza.
Principio y fin habitan en el mismo relámpago.

 

encontrado aqui
traduzido por José Bento e publicado em As coisas como foram, Assirio &Alvim, 2004 

 

 

Apontamento

Agora estendes os braços. Saltas. E arrebatas
à alegre laranjeira em flor
algumas pétalas.
E depois vens
sorrindo para mim, deixas na minha mão
as delicadas flores.

Gostaria de um dia
dizer com minhas palavras a beleza
deste nosso momento: a graça de teu corpo
no instante de saltar, meus olhos que te fitam,
o pequeno milagre do perfume.

Sonata  para Piano e Violoncelo

Oiço a mesma música que então
escutara a se lado.
Aqueles olhos
já não estão hoje a olhar-me, e não sinto
no peito o amor.
Mas alguma coisa viva
desse tempo regressa e os acordes
daquela música fazem-me sofrer.

A Janela

Nas tardes de Março, quando nada
resta em minha cidade que recorde o Inverno
e uma doce moleza invade o ânimo
disposto à indolência,
é belo olhar pela janela
enquanto se ouve música,
ver as horas passar, ver como o tempo
flui e vai declinando pouco a pouco
a luz crepuscular. Nenhum cuidado
nos turba o coração e ocupam-nos
pensamentos amáveis, acaso vagamente
melancólicos.
Chegam
sombras às ruas e ao aposento
onde, em paz, sozinhos, nos sentimos
talvez quase felizes. No céu
o sol apaga-se e, depois, devagar,
a noite vai acendendo as estrelas.

Os Anos

Com certeza terás mudado tanto
que, se o acaso de novo nos juntasse,
eu não reconheceria a que tu foste
na que serás agora. também teus olhos,
se outra vez me olhassem, olhariam
um homem em que nada quase resta
do jovem desse tempo.

Como posso
saber que não foi sonho esta certeza
da nossa juventude? Foi aquela glória,
que se nos concedeu luz sucedida,
luz que em verdade vivemos?
Vai pousando
a névoa na memória, e acontece
a escuridão, a noite na qual somos
um nó de sombras, fábula do tempo.

 

Lembra-te

Quando o acaso ou o costume, dentro de muitos anos,
de novo aqui te tragam, se fores vivo, e a vida
para ti seja só lembrança dissipada
os antigos dias, lembra-te que houve um tempo
em que as coisas, por milagre, foram de outra maneira:
lembra-te que hoje este jardim
te ofereceu sua paz, das roseiras
em flor, do sol que te acompanha
te ajuda com a sua luz tépida
a ser feliz e a saber que és jovem.

O Fulgor do Relâmpago

Há coisas que a vida te dá quando já mal
podias esperá-las, e sua luz
maravilhosa, elementar, puríssima,
faz-te feliz de súbito. E desgraçado,
pois compreendes que já não será teu
esse milagre agora e que não deves
às cegas entregar-te ao que era
próprio talvez de outro momento teu,
de um momento anterior, quando ainda tinhas
forças para ser livre.
Mas deixa-te levar e vive essa beleza
com coragem, sem medo. Para quê pensar
no que te convém. É fugaz a ventura.
Não a desprezes. Agarra-a. e esgota
o fulgor do relâmpago.
Depois,
tempo terás para continuar morrendo.

Madrigal

Abriste meu livro e lentamente vais
lendo-o com atenção. Teus olhos
param agora diante desta página.
Começas a ler e apercebes-te
depressa de que falo de ti.
Para o descobrir, como eu esperava,
não precisas de ver teu nome impresso
no papel, porque de sobra sabes
que só a ti eu canto. Minha voz
tem em ti sua origem e sua obra,
seu motivo de existir: ao celebrar-te,
encontro uma feliz ocupação e sou
fiel ao destino que me justifica.

Na Noite

Terás envelhecido, como eu, e a tua existência
será igual à minha, mais ou menos: monótonos
dias que vão passando bem lentamente, dias
em que nada acontece e é tudo igual para nós.

Talvez de quando em quando te recordes daquela
longínqua luz de Agosto que partilhámos. Talvez
sobre o meu nome tenha crescido o esquecimento
e apagou-se em ti minha imagem para sempre.

Por vezes interrogo-me se em verdade fui jovem
e estive ali, contigo, se esse verão existiu.
O sonho e a memória não são coisas diferentes:
não sei se te recordo ou se sonho contigo.

O tempo desteceu as certezas que tive.
Com a idade, a evidência do passado se esfuma.
Estou só. È de noite. Penso que minha vida,
a minha própria vida, não ocorreu talvez nunca.

Assim, por certo

Ouvirás como a noite vai deixando
sua música desolada em teu ouvido.
As sombras te cercaram e tuas mãos
não podem afastá-las. Está frio.

E não queres a luz. Tu apenas desejas
que nesta escuridão tudo se acabe.
O tempo terminou. A Aurora chega,
mas teus olhos não a vêem. É já tarde.

Já não se escuta nada. Pouco a pouco,
o teu quarto encheu-se de silêncio.
Depois esquecer-te-ão. Ninguém, em breve,
recordará sequer que tu morreste.

 

 

as coisas como foram, assírio & alvim, 2004

tradução:  josé bento

 

tradução: José Bento

de As coisas como foram, Assirio & Alvim, 2004

Alabanza de la noche

La luz los separaba. No podían
acomodar sus ojos al dolor que la mañana
derramaba en su mundo, en el tierno desorden de sus cosas.
El día le dictaba a la indolencia normas de claridad,
difíciles caminos bajo el sol.

Malgastaban su tiempo en trabajos extraños,
en tareas que les eran ajenas y que las horas
dejaban en sus manos de repente.

Y transcurrían siglos de silencio, inacabables
épocas de sed, grandes espacios de flores muertas,
Pero al fin la triste respiración de la ciudad cansada
les decía que comenzaba a regresar el atardecer.
Posaban la mirada en las lejanas cumbres. Presentían
que en el rumor oscuro de sus árboles
ya estarían las aves buscando su cobijo,
su humilde refugio de verdor apagado.

Entonces olvidaban la larga separación,
rompían las ataduras de la luz
y se encontraban de nuevo en el límite exacto de la sombra.

Porque la noche los unía, los empujaba suavemente
al lecho en que los cuerpos celebran los ritos de la
                                                                               inmediatez,
al reino de la inocencia y de lo verdadero.

O elogio da noite

A luz afastava-os. Não conseguiam
acomodar os olhos à dor que a manhã
derramava no seu mundo, na suave desordem das suas coisas.
O dia impunha à indolência normas de claridade,
caminhos difíceis debaixo do sol.

Desperdiçavam o tempo em trabalhos extravagantes,
em tarefas que lhes eram estranhas e que as horas
deixavam de repente nas suas mãos.

E passavam séculos de silêncio, intermináveis
épocas de sede, grandes espaços de flores mortas,
Mas por fim a triste respiração da cidade cansada
anunciava que começava a regressar o entardecer.
Poisavam o olhar nos montes distantes. Pressentiam
que no rumor obscuro das suas árvores
já andariam os pássaros em busca do seu abrigo,
do seu humilde refugio de verdura desbotada.

Nesse momento, esqueciam a longa separação,
rompiam as amarras da luz
e encontravam-se de novo no limite exacto da sombra.

Porque a noite os unia, empurrava-os suavemente
para a cama onde os corpos celebram os ritos do imediato,
para o reino da inocência e do verdadeiro.

 

tradução: at