Bernardim teve um problema grave com a mãe
sempre ausente sabe-se lá por onde
enquanto ele fazia de Peter Pan em casa
onde se travestia de menina e moça.
Sá de Miranda bem lhe falou ao coração
mas Bernardim não parou de sangrar até ao fim dos dias
Sá de Miranda viajado, vaidoso, eventualmente pedopsiquiatra,
o Dr. Sá de Miranda cortesão pedante rezam as crónicas não escritas da época
não conseguiu converter Bernardim à medida nova.
Enquanto isto, Ricardo Reis dava-se ao estoicismo
que era uma espécie de desprezo pelas paixões, luxúrias e outras.
Rezo para que nunca, mas nunca me dividam em partes
nem a mim nem aos poemas
mesmo aqueles que eu já tenha dividido
no momento áureo da maternidade.
E rezo sobretudo para que me esqueçam até ao fim dos tempos
mas não, nunca, jamais, em tempo algum
me chamem sujeita poética!
Lá anda o sujeito poético no ringue
aos sopapos com o eu lírico!
Sophia falece então para mal dos filhos e para
eterno massacre da menina do mar que
nada pode contra a foda Oriana.
O que nos vale são os versos heróicos
que nos levam às nuvens da escansão
estado poroso de pão-de-ló e malvasia
que qualquer enólogo nos explicará
num power point ou num paper
junto ao rio com a eterna Lídia pela mão.
Publicado na revista osso