Fernando Echevarría

Fernando Echevarría nasceu em Cabezón de la Sal (Santander, Espanha) em 1929. Filho de pai português e mãe espanhola, veio para Portugal com dois anos de idade, mas regressou mais tarde a Espanha, onde estudou Filosofia e Teologia no seminário de Astorga. Não se tendo ordenado, voltou a Portugal em 1953. Em 1956 publicou o seu livro de estreia, Entre Dois Anjos, que lhe garantiu um reconhecimento imediato.

Em 1963, depois de aderir ao Movimento de Acção Revolucionária, partiu para Argel, passando a trabalhar numa cooperativa de autogestão. A partir de 1966 instala-se definitivamente em Paris, passando a dedicar-se, até 1994, à actividade docente. Só volta a Portugal depois da queda do regime salazarista, em 25 de Abril de 1974. A partir dessa data, pôde retomar um ritmo normal de publicação, iniciando então um novo e fecundo ciclo de produção literária e recebendo múltiplos prémios.

Morrer, aos 92 anos, no dia 4 de outubro de 2021, na cidade do Porto, onde residia.[3

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Foto: Rui Oliveira

Poemas

Descobriremos o nosso movimento
quase uma folha,
ou quase uma pupila
que se inclinasse e só nos desse o tempo
de uma sombra passar e entrar no olvido.
Mas, sobretudo, veremos
pensar-se um ar antigo
que vem ao movimento
quando mover-se nem sequer é escrito.

de Sobre as Horas, 1963

encontrado aqui

A luz inerte susta
o horizonte. Baixo negrume de caruma
surpreende-se por trás do
nevão. Aonde, escura,
a mágoa afunda o pasmo.
E este o bosque. A oculta
Imensidade de halo
Que a luz inerte susta,
exígua, como o campo.

 

lido aqui

Vai distraído. O ângulo
mensura o ritmo de desfasamento
de que surge a deriva crepuscular do espaço
quando é mais tensa a altura do silêncio.
Vai distraído. Vai iluminado
pela crueza de lugar que o vento
enreda a seus pés, deixando
toda a espessura do sono ao movimento.
Vai distraído. E a distracção é um santo
país de conhecimento.

de Figuras, Ed. Afrontamento, 1987