Rabindranath Tagore
Rabindranath Tagore
Rabindranath Tagore (Ravìndranatha Thakura), nasceu em Calcutá em 1861. Publicou o seu primeiro livro de poesia aos 17 anos. Viveu em Inglaterra entre 1878 e 1880, onde estudou Direito e conheceu a literatura e a música europeias. Escreveu poesia, contos, novelas, teatro e compôs centenas de canções populares. Mais tarde também pintou. Internacionalista convicto, deu aulas ao ar livre, em clima de liberdade.
Fundou a escola Santiniketan que logo se converteu num centro de difusão do panteísmo espiritualista, relacionado com as doutrinas védicas, e dos ideais de solidariedade humana e que em 1921 se tranformou na Universidade Internacional Visya-Bharati.. A dor pela morte da esposa e de dois de seus filhos, entre 1902 e 1907, inspirou a Tagore alguns dos mais profundos poemas místicos, entre os quais os incluídos em Gitañjali (1910; A oferenda lírica).
As preocupações sociais do escritor, levaram-no a defender a independência da Índia em diversos ensaios, embora sempre tenha considerado que a mudança individual deve preceder a social. Viajou muito e deu conferências por todo o mundo.
Escreveu sempre na sua língua natal, o bengali. Em 1923, foi agraciado com o prémio Nobel de Literatura. Em 1915, o rei Jorge V nomeou-o cavaleiro, mas Tagore renunciou ao título como protesto contra o massacre de Amristar, em 1919, quando as tropas britânicas mataram 400 manifestantes indianos. Rabindranath Tagore, é o autor indiano mais famoso e importante da época colonial. Foi aclamado por Gandhi como "o grande mestre" e reconhecido por todos os indianos como "o sol da Índia".Muitas das suas obras estão traduzidas no Ocidente. Em portugal foi traduzido por Manuel Simões (O Coração da Primavera, Editorial A.O. - Braga) e por Agostinho Batista (Poesia, Assírio & Alvim, 2004). R. Tagore faleceu em Santiniketan, Bengala em 7 de agosto de 1941.
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O meu coração, pássaro do deserto, revoa no céu dos
teus olhos. Teus olhos são o berço da manhã, o reino
das estrelas e a profundeza onde as minhas canções
se perdem.
Deixa que eu mergulhe neste céu imenso e solitário.
Deixa que eu penetre as tuas nuvens e abra minhas asas
em teu sol.
lido aqui
Se é assim que desejas,
se for assim do teu gosto,
cessarei de cantar!
Se com isso agitar
teu coração,
do meu olhar o triste brilho
desviarei do teu rosto...
e se eu, de súbito te assustar
no teu passeio despreocupado,
afastar-me-ei do teu lado
e tomarei outro brilho...
Se eu te embaraçar – ai de mim –
quando teceres as tuas flores,
flor encantada,
esquivar-me-ei do teu
solitário jardim
e da tua doce imagem...
E se eu tornar a água turva
e agitada,
jamais remarei a minha barca
para a tua margem...
tradução: Victor de Sá Coelho
em Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvin, 2001
Não julgues...
Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco...
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.
Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho...
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.
Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
e enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.
em Poesia, tradução de José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2004
Noite, velada Noite,
faz-me teu poeta!
Deixa-me entoar as canções
de todos aqueles
que, pelos séculos dos séculos,
se sentaram em silêncio
À tua sombra!
Deixa-me subir ao teu carro sem rodas
que corre silencioso de mundo a mundo,
tu que és rainha do palácio do tempo,
escura e formosa!
Quantos entendimentos ansiosos
penetraram mudos no teu pátio,
vaguearam sem lâmpada pela tua casa,
À tua procura!
Quantos corações, que a mão do Desconhecido
atravessou com a flecha da alegria, romperam em cânticos
que sacudiam a tua sombra
até aos alicerces!
Faz-me, ó Noite,
o poeta destas almas despertas
que contemplam maravilhadas,
À luz das estrelas,
o tesouro que encontraram
de repente;
o poeta do teu insondável silêncio,
ó Noite!
Tradução: Manuel Simões