Russell Edson

Russel Edson nasceu em 1935, em Connecticut lugar onde hoje viveu É sem dúvida, o maior escritor de prosa poética da América.

Edson (con)funde constantemente o banal com o bizarro e delicia o leitor ao metamorfosear uma situação aparentemente banal e desinteressante no mais improvável e fantástico acontecimento.

Gosta de viver isolado. Publicou onze livros de poemas e uma novela. Em Portugal a Assírio & Alvim editou O Túnel, em 2002.

Russel Edson morreu no dia 29 de Abril de 2014

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Poemas

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados, dizendo aos pais que era uma árvore.
Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.
Mas os pais disseram olha é outono.

Tradução: José Alberto Oliveira

de Rosa do Mundo/2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, 2001

 

 

 

The floor is something we must fight against.
Whilst seemingly mere platform for the human
stance, it is that place that men fall to.
I am not dizzy. I stand as a tower, a lighthouse;
the pale ray of my sentiency flowing from my face.

But should I go dizzy I crash down into the floor;
my face into the floor, my attention bleeding into
the cracks of the floor.

Dear horizontal place, I do not wish to be a rug.
Do not pull at the difficult head, this teetering
bulb of dread and dream . . .

encontrado aqui

Irás ouvi-la, a musa; ela bate três vezes. Depois não bate mais...

A senha é o absurdo.
Assim começa o segredo que esconde a mensagem derradeira...

Sentar-te-ás no escuro esperando as três pancadas. Não te iludas com a chegada dos três porquinhos,
ou do velho que manca com uma bengala. O que massacra a Esfinge no final do jogo.

O desfecho é o absurdo, sem o qual a rota da mensagem derradeira está inçada de significado, e a
incerteza de tudo está em toda a parte...

encontrado aqui

Um cientista tem um tubo de ensaio com carneiros.
Quer saber se encolher um pasto para eles se ficam como
grãos de arroz. Quer saber se é possível encolher algo fora da
existência. Quer saber se os carneiros estão cientes da sua
pequenez, se têm algum sentido da escala. Talvez pensem que
o tubo de ensaio é um celeiro de vidro...
Quer saber o que deve fazer com eles;
têm certamente menos carne e lãs do que carneiros ordinários.
Reduziu seu valor comercial? Quer saber se poderiam ser
usados como um substituto para o arroz, um genérico do arroz...
Quer saber se se os friccionar obtém pasta
vermelha entre seus dedos. Quer saber se continuam produzindo,
ou se alguns deles morrem. Põe-os sob um microscópio, e
cai adormecido contando-os...

encontrado aqui

Do outro lado do espelho há um mundo ao contrário,
onde os loucos ficam sãos; onde os ossos se desenterram
e regressam ao primeiro lodo do amor.

E ao entardecer o sol apenas se levanta.

Os amantes choram porque estão um dia mais novos, e breve
a infância lhes rouba o seu prazer.

Num mundo assim há muita tristeza que, claro,
é alegria.

tradução: Sandra Costa

 

Um homem emboscou uma pedra. Apanhou-a. Fê-la prisioneira.
Pô-la num quarto escuro e ali permaneceu de guarda para
o resto da sua vida.

A mãe perguntou-lhe porquê.

Ele respondeu, porque a mantém cativa, porque está
capturada.

Olha, a pedra está adormecida, disse ela, não sabe
se está ou não está num jardim. A eternidade e a pedra
são mãe e filha; tu é que estás a envelhecer.
A pedra apenas está a dormir.

Mas eu apanhei-a, mãe, é minha por conquista, disse ele.

Uma pedra não é de ninguém, nem sequer de si própria. Tu é que
foste conquistado. Estás a vigiar o prisioneiro, que és tu próprio,
porque tens medo de sair, disse ela.

Sim, sim, tenho medo, porque nunca me amaste,
disse ele.

O que é verdade, porque sempre foste para mim o que
a pedra é para ti, disse ela.

tradução: Sandra Costa

Um pianista sonha que é contratado por um empresa de demolição para
destruir um piano com os seus dedos...
No dia do concerto da demolição do piano, enquanto se está
a vestir, ele repara numa borboleta a aborrecer uma flor na floreira
da sua janela. Pergunta-se se a polícia deve ser chamada. Então ele pensa
talvez a borboleta seja apenas uma marioneta que está a ser manipulada pelo
seu mestre a partir da janela de cima.
Subitamente tudo é belo. Ele começa a chorar.

Então outra borboleta começa a aborrecer a primeira borboleta.
Pergunta-se de novo se não deve chamar a polícia.
Mas, serão elas talvez borboletas-marionetas? Ele pensa
que são, pertencem a mestres rivais observando qual borboleta consegue
aborrecer mais a do outro.

E isto está a acontecer na floreira da sua janela. O Plano
Cósmico: Mestres Distantes manipulando Mestres menores que, por sua vez,
estão a manipular minúsculas borboletas-Mestras que, por sua vez, estão
a manipulá-lo... Um universo tecido com cordas!
Subitamente tudo é tão belo; a luz é estranha...
Há algo na luz! Ele começa a chorar...

Traduçao: Sandra Costa