Carl Sandburg

Carl August Sandburg nasceu em 1878 em Galesburg, Illinois nos EUA. Filho de emigrantes suecos de poucas posses (o pai era ferreiro), largou cedo  os estudos para ajudar a família. Trabalhou como pedreiro, leiteiro, engraxador entre outras tarefas. Viajou pelo país.

Foi soldado na guerra espano-americana. Em 1898, regressou a casa e voltou a estudar no Lombard College. Um dos seus professores, Philip Green Wright, gostou dos seus poemas, estimulou-o a continuar e patrocinou a publicação do seu primeiro volume de poesia, Reckless Ecstasy, em 1904. Em 1916 o lançamento de Chicago Poems, valeu-lhe reconhecimento internacional. Carl Sandburg foi poeta, jornalista, ficcionista e biógrafo.

Em 1940 ganhou o Prémio Pulitzer com uma biografia de Abraham Lincoln. Em 1951 foi agraciado com o mesmo prémio pela sua obra poética. A poesia de Sandburg celebra a liberdade individual, a vida urbana e o dia-a-dia dos trabalhadores comuns. Carl Sandburg morreu na sua casa em Flat Rock, Carolina do Norte, no dia 22 de Julho de 1967.

Ler mais: carl-sandburg,com / wikipedia / sandburg.org / poets.org / / poems

Poemas

— Quanto me amas? Um milhão de alqueires?
— Oh, muito mais que isso, oh, muito mais.

— E amanhã? Talvez meio alqueire?
— Amanhã talvez nem isso.

— É esta, então, a aritmética do teu coração?
— Não; é o modo como o vento mede o tempo.

tradução: Jorge Wanderley

lido aqui

 

Rápido

Viajo de rápido, num dos melhores comboios do país.
Lançados através da pradaria, da névoa azul, no ar escuro,
correm quinze carruagens com mil viajantes.
Todas estas carruagens serão, um dia, montes de ferrugem;
homens e mulheres que riem
no vagão-restaurante, nas carruagens-camas, hão-de acabar em pó.
No salão dos fumadores pergunto a um homem qual o seu destino.
«Omaha», responde.

lido aqui

Sopa 

Vi um homem famoso comer sopa.
Vi que levava à boca o gorduroso caldo
com uma colher
Todos os dias o seu nome aparecia nos jornais
em grandes parangonas
e milhares de pessoas era dele que falavam.
Mas quando o vi,
estava sentado, com o queixo enfiado no prato,
e levava a sopa à boca
Com uma colher.

lido aqui

Chicago 

Chacinadora de porcos para o mundo,
fabricante de máquinas, ensiladora de trigo,
tu que brincas com as ferrovias e transportas os produtos do país:
tumultuosa, grosseira, sempre aos gritos,
ó cidade das costas largas:

Dizem-me que és selvagem e eu acho que sim: vi as tuas mulheres
pintadas seduzirem os rapazes do campo à luz dos lampiões.
Dizem-me que és injusta e eu respondo: é verdade; vi pistoleiros matarem e ficarem livres para continuarem a matar.
E dizem-me que és brutal. A minha resposta é: nas caras
das mulheres e das crianças vi as marcas de uma fome tenaz.
Foi o que respondi. E voltando-me mais uma vez para aqueles que escarnecem da minha
cidade, por meu turno escarneci deles, dizendo:
Mostrai-me outra cidade que de cabeça levantada cante assim, orgulhosa de estar viva e de ser rumorosa e forte e astuta.
Lançando magnéticas pragas, acumulando afadigamente fainas sobre fainas, eis a grande ardorosa lutadora erguendo-se viva entre as pequenas cidades efeminadas;
feroz como um mastim de língua pendente, pronto para o assalto, ardilosa como um selvagem que defronta a hostilidade do deserto,
de cabeça nua
amontoas
arrasas
planificas
constróis, destróis, reconstróis,
por entre o fumo, a boca cheia de pó, rindo com brancos dentes,
sob o peso terrível do destino rindo como riem os jovens,
rindo como ri um lutador ignorante que nunca perdeu um combate.
rindo gabarola, rindo de sentires o sangue a pulsar-te nas veias,
rindo de sentires no peito o coração do povo!
Rindo o sonoro, rude, tempestuoto riso da mocidade semi-nua, suarenta, orgulhosa de seres a chacinadora de porcos para o mundo, a fabricante de máquinas, a cidade que brinca com as ferrovias e transporta os produtos do país. 

lido aqui

Quanto maior é a caixa, mais leva.
As caixas vazias levam tanto como as cabeças vazias.
Muitas caixinhas vazias que se deitam numa grande caixa vazia,
enchem-na toda.
Uma caixa meio-vazia diz: “Ponham-me mais.”
Uma caixa bastante grande pode conter o mundo.
Os elefantes precisam de grandes caixas para guardar uma dúzia de
lenços de assoar para elefantes.
As pulgas dobram os seus lencinhos e arrumam-nos com cuidado
em caixas de lenços para pulgas.
Os sacos encostam-se uns aos outros e as caixas levantam-se
independentes.
As caixas são quadradas e têm cantos, ou então são redondas
e têm círculos.
Pode empilhar-se caixa sobre caixa até que tudo venha abaixo.
Empilhe caixa sobre caixa, e a caixa do fundo dirá: “Queira notar que tudo repousa sobre mim.”
Empilhe caixa sobre mim, e a que está em cima perguntará: “É capaz de me dizer qual de nós cai para mais longe quando caímos todas?”
As pessoas-caixas vão à procura de caixas e as pessoas-sacos à procura de sacos.

em Rosa do mundo – 2001 poemas para o futuro, Assírio & Alvim, 2001

I SHALL foot it
Down the roadway in the dusk,
Where shapes of hunger wander
And the fugitives of pain go by.
I shall foot it
In the silence of the morning,
See the night slur into dawn,
Hear the slow great winds arise
Where tall trees flank the way
And shoulder toward the sky.

The broken boulders by the road
Shall not commemorate my ruin.
Regret shall be the gravel under foot.
I shall watch for
Slim birds swift of wing
That go where wind and ranks of thunder
Drive the wild processionals of rain.

The dust of the traveled road
Shall touch my hands and face.

lido aqui

GIVE me hunger,
O you gods that sit and give
The world its orders.
Give me hunger, pain and want,
Shut me out with shame and failure
From your doors of gold and fame,
Give me your shabbiest, weariest hunger!

But leave me a little love,
A voice to speak to me in the day end,
A hand to touch me in the dark room
Breaking the long loneliness.
In the dusk of day-shapes
Blurring the sunset,
One little wandering, western star
Thrust out from the changing shores of shadow.
Let me go to the window,
Watch there the day-shapes of dusk
And wait and know the coming
Of a little love.

lido aqui

THE monotone of the rain is beautiful,
And the sudden rise and slow relapse
Of the long multitudinous rain.

The sun on the hills is beautiful,
Or a captured sunset sea-flung,
Bannered with fire and gold.

A face I know is beautiful--
With fire and gold of sky and sea,
And the peace of long warm rain.

lido aqui

LET a joy keep you.
Reach out your hands
And take it when it runs by,
As the Apache dancer
Clutches his woman.
I have seen them
Live long and laugh loud,
Sent on singing, singing,
Smashed to the heart
Under the ribs
With a terrible love.
Joy always,
Joy everywhere--
Let joy kill you!
Keep away from the little deaths.

lido aqui

Smash down the cities.
Knock the walls to pieces.
Break the factories and cathedrals, warehouses
and homes
Into loose piles of stone and lumber and black
burnt wood:

You are the soldiers and we command you.

Build up the cities.
Set up the walls again.
Put together once more the factories and cathedrals,
warehouses and homes
Into buildings for life and labor:
You are workmen and citizens all: We
command you.

lido aqui

 

 I. CHICKENS

I am The Great White Way of the city:
When you ask what is my desire, I answer:
“Girls fresh as country wild flowers,
With young faces tired of the cows and barns,
Eager in their eyes as the dawn to find my mysteries,
Slender supple girls with shapely legs,
Lure in the arch of their little shoulders
And wisdom from the prairies to cry only softly at
the ashes of my mysteries.”

II. USED UP

Lines based on certain regrets that come with rumination
upon the painted faces of women on
North Clark Street, Chicago

Roses,
Red roses,
Crushed
In the rain and wind
Like mouths of women
Beaten by the fists of
Men using them.
O little roses
And broken leaves
And petal wisps:
You that so flung your crimson
To the sun
Only yesterday.

III. HOME

Here is a thing my heart wishes the world had more of:
I heard it in the air of one night when I listened
To a mother singing softly to a child restless and angry
in the darkness.

lidos aqui

 

Blacklisted

Why shall I keep the old name?
What is a name anywhere anyway?
A name is a cheap thing all fathers and mothers leave
each child:
A job is a job and I want to live, so
Why does God Almighty or anybody else care whether
I take a new name to go by?

Have Me

Have me in the blue and the sun.
Have me on the open sea and the mountains.

When I go into the grass of the sea floor, I will go alone.
This is where I came from—the chlorine and the salt are
blood and bones.
It is here the nostrils rush the air to the lungs. It is
here oxygen clamors to be let in.
And here in the root grass of the sea floor I will go alone.

Love goes far. Here love ends.
Have me in the blue and the sun.

Whitelight

Your whitelight flashes the frost to-night
Moon of the purple and silent west.
Remember me one of your lovers of dreams.

Who Am I?

My head knocks against the stars.
My feet are on the hilltops.
My finger-tips are in the valleys and shores of
universal life.
Down in the sounding foam of primal things I
reach my hands and play with pebbles of destiny.
I have been to hell and back many times.
I know all about heaven, for I have talked with God.
I dabble in the blood and guts of the terrible.
I know the passionate seizure of beauty
And the marvelous rebellion of man at all signs
reading “Keep Off.”

My name is Truth and I am the most elusive captive
in the universe.

lidos aqui