Memória de espelhos (XIX)
quando acordei já não estava ao colo de minha mãe. tinham fechado as janelas da casa. as portas eram agora grandes muralhas. e eu sentada sobre uma pedra fiquei para sempre do lado de fora. muito alto muito alto o tecto traça o gesto que destrói as estrelas de há milénios.
há um punhal cravado no jardim da sala onde minha mãe me pegava ao colo.
para não ouvir os gritos das gotas de água que caiem ainda hoje das torneiras desço os degraus da chuva não páro de descer e num ritual muito antigo e sábio acendo uma vela
espero a solidão de deus no incenso a arder...
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